Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. Estas palavras de são Paulo servem como ponto de união das nossas leituras. O amor do Pai e seu rosto misericordioso se revelam em Cristo, de forma que quem vê a Cristo, vê o Pai. A parábola do filho pródigo, presente no evangelho de hoje, expressa de um modo plástico a reconciliação que Cristo nos conseguiu. Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo (II Cor 5, 19). Em Cristo temos acesso ao Pai. A primeira leitura, por outro lado, apresenta o povo de Israel que, cruzando o Jordão, deixa de ser um povo nômade, e já pode desfrutar dos bens da terra que "emana leite e mel". A esperança da terra prometida começa a se tornar realidade. Tudo é novidade para este povo que cruza o Jordão e ratifica novamente a aliança. Destes frutos da terra, podemos ver a figura da oferta do pão e do vinho que se transformaram no corpo e no sangue do Senhor.
1. Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova.
O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. Todas as imagens do Antigo Testamento: a travessia do Mar Vermelho ou do Jordão, a entrada na terra prometida, o pão do céu, são pequenas imagens diante da realidade que Deus operou em nós por meio de Jesus Cristo: transformou-nos em novas criaturas. Reconduziu-nos ao projeto original de Deus sobre o homem e nos colocou no seio da Trindade pela graça. Imitemos os padres do deserto e repitamos estes versículos da escritura: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. Uma nova criatura! Uma nova criação! Uma novidade de vida! O antigo testamento já falava que Deus iria renovar todas as coisas: eis que eu farei uma coisa nova, ela já vem despontando: não a percebeis? (Is 43, 19). Com efeito, criarei novos céus e nova terra; as coisas de outrora não serão lembradas, nem tornarão a vir no coração (Is 65, 17). Este último texto fazia referência à renovação posterior ao cativeiro da Babilônia, que era compreendido como um novo êxodo, maior ainda que o primeiro. Contudo, a escritura tem um alcance mais profundo e, na verdade, faz referência aos tempos messiânicos e ao fim dos tempos, quando Cristo será tudo em todos. É Cristo que nos reconcilia com o Pai. Reconciliação significa realizar um acordo entre as partes numa comum unidade e entendimento. Porém, o verbo grego tem uma força de expressão maior: indica a passagem de um estado para outro. Nesse sentido, bonito é compreender o coração do pai que se alegra com o filho que estava perdido foi encontrado. O filho pródigo passa de um estado de escravidão para um estado de filiação. Por isso o pai se alegra, porque a humanidade do filho foi salva. "O pai sabe que o que se salvou foi um bem fundamental: o bem da humanidade de seu filho. Muito embora este tenha esbanjado a herança, a verdade é que a sua humanidade está salva. E mais ainda, de algum modo, ela foi reencontrada. É o que dizem as palavras que o mesmo pai dirigiu ao filho mais velho: ‘Era preciso que fizéssemos festa e nos alegrássemos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado’" ( João Paulo II, Dives in Misericordia, nº6).
1. A atitude do Pai.
O verdadeiro núcleo da parábola se encontra na atitude do Pai. Podemos dizer que a atitude do Pai com o filho errante é de uma misericórdia infinita, de uma ternura que comove. Estando ainda longe, o pai o viu e correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou; mandando em seguida aos servos que lhe trouxessem depressa a melhor roupa e pusessem em seu dedo um anel e calçado nos pés. Faz também uma festa. O Pai não concentra a atenção no pecado cometido, mas na conversão, na volta do seu filho. Estava perdido e foi encontrado. Isto é que é importante para Deus: que ninguém se perca, que todos cheguem até a casa paterna. Nossa vida é uma peregrinação para a casa do Pai. Assim fala o profeta Miquéias: esquecei as nossas faltas e jogai os nossos pecados nas profundezas do mar! (Miq 7, 19). O perdão que Deus me oferece é completo, absoluto, não tem restrições. Deus me "faz novamente", me recoloca no estado de dignidade e santidade que me são próprios como filho da casa paterna. Ezequiel nos fala maravilhosamente deste coração misericordioso de Deus: Tu, filho do homem, dize à casa de Israel: Vós afirmais: "Nossas transgressões e nossos pecados pesam sobre nós. Por eles pereceremos: Como podemos viver?" Dize-lhes: "Por minha vida, oráculo do Senhor Javé; certamente não tenho prazer na morte do ímpio, mas, antes, na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos. Por que haveis de morrer, ó casa de Israel?" (Ez 33, 10-11). A atitude do Pai com o filho mais velho também é muito significativa. Da mesma forma como o Pai se humilhou para ir ao encontro do filho caçula, também se humilha para ir ao encontro do filho mais velho e convencê-lo a entrar em casa. O coração de Deus vai ao encontro do homem em Cristo Jesus. Quem viu Cristo, viu o Pai. Quem vê Cristo morrer na cruz, vê o Pai misericordioso que vai ao encontro de seus filhos. O filho mais velho também é presa de um ataque de soberba, de inveja, e diz ao Pai: quando chega esse teu filho, que esbanjou os teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado. O Pai, por sua vez, responde: "era preciso festejar e nos alegrarmos, porque este teu irmão estava morto...". O Pai lhe mostra que todos os seus bens são dele; que não quis guardar com avareza os bens, mas que os compartilha com seu filho. Comunhão de bens.
Como viver isso:
1. A reconciliação com Deus.
Reconciliar-se com Deus, deixar-se fazer novamente amigo de Deus! Experimentar a misericórdia de Deus, deixar que Ele exercite em mim a sua misericórdia! Na verdade, todos necessitamos de misericórdia. Necessitamos dela por causa das nossas grandes responsabilidades, assim como por causa da nossa fraqueza e miséria moral. Mal podemos dar três passos sem errar algum. Aprendamos a usar o caminho privilegiado da reconciliação, que é o sacramento da confissão, como sinal sagrado instituído por Cristo para perdoar os pecados mortais e para incrementar a graça santificante. Igualmente recomendáveis são os atos de presença de Deus com um profundo ato de contrição pelas nossas faltas. São atos simples, que podem ser feitos em qualquer lugar e que mantêm a nossa alma orientada para Deus. Eles preparam para uma boa e sincera recepção do sacramento da penitência.
1. A reconciliação com nossos irmãos.
Com certeza não haveria verdadeira reconciliação com Deus se não houvesse um perdão sincero pelas faltas dos nossos próximos. A atitude do filho mais velho é altamente significativa. Ele também tinha necessidade de se reconciliar com o coração de seu pai. Apesar de estar fisicamente próximo, espiritualmente estava muito longe e precisava da misericórdia do Pai. Podemos dizer que o filho mais velho descobre a misericórdia do Pai vendo a misericórdia deste para com seu irmão. Faz-se, por assim dizer, partícipe da misericórdia do Pai. Pregar a reconciliação num mundo como o nosso, onde o rancor e a vingança vão ganhando espaço nos corações, é uma grande e difícil tarefa! Por isso, é muito importante que todos os cristãos sejam um foco de paz , de perdão e de reconciliação.
Fonte: catholic.net
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